Crise financeira afeta valor arquitetônico no Centro de SP
O Centro de São Paulo é um local que impressiona, especialmente para os visitantes estrangeiros. Em 2010, um amigo italiano fez um comentário interessante sobre uma borracharia localizada no térreo de um prédio histórico no Centro: “Se fosse em Milão, aqui seria uma loja da Prada”. Isso reflete a percepção de que o Centro de São Paulo tem um potencial enorme para abrigar estabelecimentos de alto nível, aproveitando sua localização estratégica e a movimentação constante de pessoas.
A região central de São Paulo é conhecida por sua diversidade e dinamismo, com uma área central que abriga desde lojas de luxo até pequenos comércios e serviços. A zona central é um ponto de encontro para pessoas de todas as partes da cidade, e é lá que se encontra a borracharia que foi comparada à loja da Prada. É um local incrível e muito movimentado, com uma energia única que atrai visitantes e moradores. Em 2010, a cidade vivia um momento de grande crescimento econômico, enquanto o mundo enfrentava a crise financeira global de 2008, e o Centro de São Paulo era um dos principais destinos para os imigrantes europeus que buscavam oportunidades no Brasil. A cidade estava em expansão e o futuro parecia promissor.
Revalorização do Centro
Um movimento que começou a se esvaziar a partir da Copa de 2014, quando ficou claro que se tratava de um voo de galinha, chamou minha atenção para a escolha residencial de jovens que optaram por morar no Centro de São Paulo, em oposição a bairros considerados mais seguros, como Itaim ou Jardins. Essa preferência me fez refletir sobre por que abandonamos o Centro, uma região rica em equipamentos públicos, como universidades, espaços culturais e uma malha de infraestrutura urbana invejável, como a do Metrô, localizada na área central da cidade. Isso não é natural, pois em cidades europeias e americanas, o centro comercial e simbólico se manteve praticamente no lugar ao longo das décadas, como é o caso da zona central de Nova York, onde o centro financeiro segue sendo Wall Street.
A região central de São Paulo viu seu polo econômico migrar da Rua XV de Novembro para a Avenida Paulista e, posteriormente, para a Faria Lima, o que levou ao abandono de uma região construída pelas elites de um passado não tão distante para celebrar sua prosperidade. Tantos metros quadrados de prédios ricamente construídos, com acabamentos nobres, o auge da nossa arquitetura, localizados na área central da cidade, simplesmente se deteriorando, é um erro histórico. A crise financeira e a falta de investimento em infraestrutura urbana contribuíram para esse abandono, mas agora a tendência parece ser de reversão desse abandono, com a valorização do Centro e da zona central.
Reversão do Abandono
A força da grana começou a perceber que investir no Centro é um bom negócio, e assim, o que durante as décadas de 80, 90 e 2000 era visto como velho e ultrapassado, gradualmente foi se tornando vintage e cool, como as poltronas do Sérgio Rodrigues, os prédios antigos estão vivendo uma ‘renaissance’ cultural, oferecendo algo que não se encontra nos empreendimentos novos: valor arquitetônico, histórico e alma, localizados na região central da cidade. É a retomada do orgulho da brasilidade, da estética do modernismo tropical, das nossas materialidades tipicamente brasileiras, como cobogós, granilite, cerâmicas, floreiras nas janelas, que são características da área central e da zona central.
Os millenials parecem ser a primeira geração a questionar o status quo, não estão satisfeitos com o que os empreendimentos novos nos bairros centrais oferecem, e começaram a desafiar a narrativa de que não dá pra morar no Centro, valorizando a arquitetura histórica e a infraestrutura urbana da região central. A efervescência cultural do Centro exerce uma atração magnética sobre os jovens, que buscam viver esse lifestyle e valorizam a arquitetura histórica, localizada na zona central da cidade. E quanto mais jovens, mais o fenômeno se fortalece, contribuindo para a revalorização do Centro e da área central.
Retrofit e Requalificação
É aí que entra o retrofit, o conceito de requalificar prédios antigos, preservando o máximo possível de sua originalidade, enquanto se atualizam instalações elétricas, hidráulicas, tecnologias e layout para atender às demandas atuais, localizados na região central e na zona central da cidade. Conversando com um empresário do ramo de retrofits, ele me contou que a requalificação de prédios antigos é uma tendência que está crescendo, pois os jovens estão procurando por espaços que ofereçam valor arquitetônico e histórico, e que estejam localizados na área central da cidade, perto de equipamentos públicos e de uma malha de infraestrutura urbana invejável, como a do Metrô, contribuindo para a revalorização do Centro e da zona central. Além disso, a requalificação de prédios antigos também pode contribuir para a redução da crise financeira e para a melhoria da infraestrutura urbana, tornando a região central e a zona central mais atraentes e valorizadas.
Fonte: © Estadão Imóveis
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